21 de dezembro de 2011

Quiçá

Quiçá
maria da graça almeida
 

Quiçá falássemos da Rosa,
que pela efemeridade das pétalas
tem frágil a aparência e breve a elegância;
quiçá da Chuva de Verão,
que pelo período de precipitação
traz a água tímida, curta, mas benfazeja;
quem sabe disséssemos do Cego,
que, perscrutando a escuridão perpétua,
constrói trilhas e corredores negros,
onde caminha, solitário e indefeso;
talvez pensássemos nos ventos,
que varrem o planeta em corrente perene, sem entenderem da poeira que  ofusca os olhos da gente, sem perceberem os grãos da germinação.
Mas, não. Silêncio! Mudez de vozes e pensamento.
Não diremos nem destes, nem daqueles, tampouco dos mais reservados sentimentos.
Nuvens acinzentadas empanam os céus
e um engasgo profundo não nos permite usufruir a fluidez do ar.
Nada dança à nossa volta.
Notas ressoam, não feito música.
São apenas flébeis gemidos.
 
A poesia entristeceu. Na agonia da esperança, um poeta morreu. Um Poeta morreu...
Em seu féretro pobre, calado, caminha o Verso, seguido pela indecisão da Letra, pela mudez da Sílaba, pela surdez da Rima.
Lágrimas, apenas as da Inspiração,
quando no sumiço do viço
umedece a palidez da Musa,
que desacerta a direção,
que esquece o compromisso...

14 de dezembro de 2011

Tempo de dores

Tempo de dores

maria da graça almeida

Longe vai o tempo
do tempo das flores,
quando só os amores
traziam dores ao peito;
quando os espasmos do ventre
eram a fertilidade das damas;
as pontadas na cabeça,
resultado do pouco dormir;
as fisgadas nas costas,
inusitadas posições na cama.

Hoje pouco dizemos de flores,
bem mais nos queixamos de dores
que já não são bobagens;
são dores que nos levarão
a estranhas paragens.
Agora é o tempo
das feridas de verdade,
sob o espectro saudoso
da longínqua mocidade.

Saudade do tempo de ontem...
quando desfrutávamos
de nova embalagem;
quando dos supostos males,
às largas, inda ríamos;
quando éramos felizes...
e certamente o sabíamos.

11 de dezembro de 2011

"Mezzo" monorrrimo

"Mezzo" monorrrimo
maria da graça almeida


Vem da rua, vem do mato,
vem ligeiro, sem recato,
vem da vida, vem da vila,
vem da lida, vem sem laço,
varredura que bandida
põe em falso o meu passo.
Não tem eira, não tem beira,
não tem óculos, nem viseira,
volve o chão e traz poeira,
põe meu corpo em tremedeira,
aos meus olhos traz coceira,
aos ouvidos zumbe asneiras.

Vem segunda ou terça-feira,
vem depressa às carreiras,
fecha forte o portão,
bate firme a porteira,

vem sem braço e sem mão,
nem dá mostra de canseira.
Gira a saia da mocinha,
meu cabelo desalinha,
rodopia, sobe e desce,
invisível se encaminha
nem em sombra aparece.
Tanto vento é um tormento,
mesmo quando chega lento.
o tal vento nem aguento,
vem de fora, vai pra dentro.
Mesmo quando chega lento,
atrapalha bons momentos,
desafia o meu intento
de cedinho ir pra rua,
de olhar de frente a lua
de quedar-me em casa nua...

1 de novembro de 2011

Beija-flor


Beija-flor
maria da graça almeida

Toda vez que comovido
bem de leve toca a flor
sai com o bico ferido,
retirando-se sem cor!

Desolada com a cena,
a Margarida com pena,
doce, pede ao passarinho,
que lhe dê o seu carinho.

A ave, voando em festa,
pressente do espinho a dor
e teimosa só empresta
beijos sempre à mesma flor!

Margarida com ciúme,
desprovida do perfume,
chora ao ver o bem amado
pela Rosa maltratado:

-Não tenho dela o olor,
porém, não possuo espinhos,
beije-me com muito amor,
eu não firo passarinhos!

- Flor miúda, graciosa,
meu martírio ora lhe digo,
eu jamais amei a Rosa,
amo apenas o perigo!

28 de outubro de 2011

Vegetação espontânea


Vegetação Espontânea

maria da graça almeida

Invejo a independência
da vegetação espontânea,
que escolhe nascer
onde melhor lhe aprouver.
Não é, milimetricamente, planejada,
nem, exaustivamente, controlada.
Vive por viver, sem cobranças,
como e quanto quiser.
Habita jardins naturais
sem canteiros convencionais,
tem o céu por regador
e o sol por cobertor... ou não.
Larga-se livre e solta,
sem estacas, sem escoras,
deita as folhas ao chão
ou alto vai, céu afora...
Cava o próprio alimento
sem mistura ou complemento,
floresce sem norma ou padrão
e se espalha, lindamente,
sem limite, sem patrão...

Maria da Graça Almeida
da antologia confraria dos poetas

À espera







Do livro Espelho
de maria da graça almeida

À espera

Tua sensibilidade crítica
é que me traz e instiga,
a investigar teus escombros!

Quero no teu interior,
com euforia ou dor,
revelar os teus sonhos

Larga-te às minhas investidas,
são curiosidades antigas,
que me ligam a ti.

Deixa que eu te penetre
e jamais te apresses
em despir-te de mim.

Vou conferir-te a fundo,
saber-te profundo,
num chegar e partir.

E quando fores embora
ficarei aqui fora,
esperando por ti!

Sei que sempre tu voltas
e bates à porta,
que eu vou abrir.

Eu te recebo sorrindo,
achando tão lindo,
voltares pra mim.

27 de outubro de 2011




O Sapo
maria da graça almeida

O sapo coaxa
na beira do rio.
O sapo com fome,
coitado, não dorme...

O sapo é modesto,
mas quer um tesouro,
tesouro pra sapo
é um grande besouro.
O sapo é guloso,
e sempre quer mais.
Um outro besouro?
Assim é demais!
A gula não é fome,
ter gula é feio,
agora não dorme
de papo tão cheio!

26 de outubro de 2011

Decreto de liberdade e amor



Decreto de liberdade e amor
maria da graça almeida

A livrá-lo do constrangimento,
pesar e da imposição,
meu amor, por ser imenso,
vem deixá-lo à vontade
para que encaminhe seus passos,
de acordo com a própria opção.

Em face do seu silêncio
e da minha solidão,
meu amor, por ser imenso,
aceita as sobras advindas
de um envolvimento
que talvez sobreviva
por força da minha intenção.

Meu amor, por ser imenso,
poderá manter-se recluso
para que não julgue intruso
o tom de minhas notas digitais
e ora o deixa liberto
para que se indigne diante
deste tolo decreto
que de vez expõe
a pieguice dos meus ais.

Meu amor, por ser imenso,
entende o quão difícil
é desempenhar certos papéis,
por isto não finja pressentir cheia
quando baixa estiver sua maré.
Meu amor, por ser imenso,
mudo de lamentos,
vibrará com a autenticidade
de sua fé.

Ainda que para seu conforto,
não mais proclame
este amor imenso, sólido,
insólito, intenso,
a chama viva que me habita
jamais se extinguirá.
Ah! este meu amor
sem bom senso,
desmedido, indefenso...
eternamente me acompanhará.

17 de outubro de 2011

Salgueiro chorão




Os faróis dos trens, ao chegar à cidade, incidiam sobre o salgueiro chorão,
que prateado soluçava, num espetáculo inesquecível de farta inquietação...
Desde o tempo de menina almejava em meu jardim o chorão ou a casuarina
Lindo é seu porte, belas as suas hastes, recheadas de folhas longilíneas , que lânguidas, femininas voltam-se ao chão, porém, a superstição inibiu-me a intenção. Associei-o à tragédia de meus amigos, precocemente expulsos da vida - ainda que o chorão não tivesse tido nenhuma participação, a não ser pelo balouçante espectro, que, no quintal, depois da partida dos moços em questão, altivo, subia, em sinistra exibição.
Implantou-me sua figura à memória e sobre mim cristalizou-se feito símbolo de tal história. Fato que não me permitiu concretizar o antigo desejo, ora adormecido. Em face de tal associação não cedi aos impulsos do plantio,
e, hoje em dia, a redimir-me da extrema covardia, resolvi escrever um inócuo poema cujo espécime uso agora como tema.

Salgueiro chorão
Maria da Graça Almeida

Na ilha da terra sofrida,
no fim do mundo e da vida,
humilde, olhando o chão,
triste gemia o chorão.

- Por quem choras, ó chorão,
este choro sem consolo?
Cá estou, à tua mão,
ofertando-te apoio!

- Este choro é bem antigo,
sufocado, reprimido,
pois de face para o chão,
não vejo da lua o clarão!

- Alegra-te, bom amigo,
não desprezes o que digo,
na água que te rodeia,
tão mais perto refletida,
terás linda a lua cheia!

(Quando o olho então já cego,
às visões da alma me entrego.
Aos reveses desta vida,
soluções alternativas.)

29 de setembro de 2011




Mulheres e árvores

maria da graça almeida

A roupa estava separada. Faltava escolher o cinto.
Optei pelo marrom. Antigo, porém continuava na moda, ela é assim, vai e volta! Ótimo!
Surpresa, ao tentar colocá-lo, notei-o extremamente pequeno. Fiquei a olhá-lo, a revirá-lo, boquiaberta! Será, diabos, que encolheu? Não, pelo que eu saiba, couro não encolhe. Concluí, entristecida, que minha cintura já não mais era a mesma.
Então, um dia eu tivera tal cinturinha? Mal podia crer. Era uma “coisiquinha”, um anel...

Ainda bem que quando a cabeça tem condições de raciocinar,
arranja-se um jeito de minorar as inquietudes...ou de fazê-las maiores, depende...
Para garantir-me a tranquilidade, resolvi refletir: somos como certas árvores! Nascemos feito simples folhinha. Aí, crescendo, temos o tronco delgado e flexível, para suportamos as quedas; as árvores têm-no para sobreviverem ao vento.
Tempo correndo... e vislumbramos o caule a engrossar; observamos nosso corpo a se avolumar. Mulheres e árvores, estruturas e destinos semelhantes.
Olho-me no espelho e ali, de repente me vejo refletida, tal qual árvore adulta. Dera sombra; dera frutos, que já deram os seus também. Tudo certo! Mulheres maduras, árvores maduras não mais envergam, seguem firmes, com galhos fortes, que, para o deleite de muitos e delas próprias, muitas vezes suportam a corda dos mais pesados balanços.

Valeu! Sem tristeza guardei o cinto, que, doravante, envolverá cinturas mais finas, as das meninas, frágeis árvores em desenvolvimento.

Agora, quando passo pelas ruas, facilmente reconheço no arvoredo as espécies ainda adolescentes e as, visivelmente, senhoras.
É a força da renovação, o poder da perpetuação. A vida é assim, para todos, faz parte da nossa natureza. Havemos de nos confomar.

23 de setembro de 2011

Poesia

Poesia

maria da graça almeida

Do suspiro fez-se a lenda
e da lenda, a fantasia,
que nasceu enluarada
e chamou-se Poesia.
De um ponto fez-se o conto,
de um canto, o acalanto,
de onde flui a sintonia
da mais doce melodia.
Da ausência fez-se o pranto
e da dor, a elegia,
onde o verso penitente
da clausura fez morada
e nessa entranha inclemente
soam rimas malfadadas.

28 de agosto de 2011

De repente

De repente
maria da graça almeida

De repente do fruto maduro,
a semente cola nas mãos,
de repente um grão distraído
enterra-se fundo no chão,
de repente a folha com vida
espia um cenário rasante,
de repente um galho mais alto
vislumbra o horizonte adiante,
de repente, o tal de repente
tornou-se de vez permanente
e com natural silhueta
de verde colore o planeta.

18 de agosto de 2011

Ao meu amor



Ao meu amor

Maria da Graça Almeida

Sem dúvidas, hoje eu sei
você, sim, é o meu rei,
ontem foi príncipe infante,
hoje é meu herói relevante!

Um homem de olhar menino,
meu tesouro masculino,
da lira, o tom maior,
das minhas metades, a melhor!

O dono do meu amor,
forte luz multicolor,
compõe a paixão no plural,
amaina meus vendavais!

Seu ser calmo e profundo
traduz a essência do mundo,
resgata com temperança,
minha alma criança.

Conquista-me de um certo jeito,
em versos mais que perfeitos.
Com gestos de pura doçura,
espalha magia e ternura!

Conferindo seu meigo rosto,
enquanto amiga e amante,
assumo tão alto posto,
serena e confiante!

Rogo que nossos destinos
caminhem sem desatinos,
trilhando as mesmas pegadas,
juntos e de mãos dadas.

E quando outra vez crianças,
cabeças pálidas, brancas,
que, frente a indícios de escombros,
um do outro tenhamos o ombro!

13 de agosto de 2011

Caneta vermelha

Caneta vermelha
maria da graça almeida

Não transmudem a poesia,
nem violentem os poemas,
o que vale é o que a alma desenha
com os pincéis do alumbramento.
Não dilacerem o dito
no afã do grito alheio.
Deitem o pensamento,
a percepção, os motivos,
de acordo com seus sentimentos.
Não se predisponham
aos óculos, às bengalas.
O dom caminha com boas pernas
e a arte nunca foi cega.
Afastem a caneta vermelha,
o que vale é o rito, a lenda,
o mito da autêntica entrega.
Sigam fiéis a seus versos,
não permitam que terceiros
alterem-lhes os manifestos,
dilatem ou os partam ao meio.
Somente a letra própria
oferece as pistas
de um momento pessoal
e da original intenção
do artista.

12 de agosto de 2011

Descansa, poeta

Descansa, poeta

maria da graça almeida

Descansa, poeta,
a vida é uma festa!
a lua apontou!
Repousa com graça,
nos bancos das praças,
ninguém te ameaça,
a alegria raiou.

Sorri das belezas!
A vã incerteza,
o tempo levou.
O verso é grandeza,
A rima é certeza,
o poema, a nobreza
que alma ganhou.

Mas, quando, poeta,
um dia, sentido,
da cor, distraído,
o amor terminar,
levanta sem graça,
nos bancos da praça,
a dor vai chegar.

Aí, chora, poeta,
o amor que passou.
Ao fim dessa festa,
a flor definhou,
a rima é indigesta,
o verso não presta,
a Poesia acabou.

31 de julho de 2011

Reversão

Reversão
Maria da Graça Almeida

Para muitos o envelhecimento é sinônimo de sofrimento, principalmente para as mulheres, mais ainda para as vaidosas.
Ainda que se surpreendam, digo que o incômodo que nos traz a metamorfose imposta pelo tempo é passível de conserto.
Não a metamorfose, propriamente, mas sua aceitação.
Não acreditam? Posso esclarecer.
Se não podemos lutar contra a ancianidade, por que não nos aliarmos a elas?
Parece complicado? Não é!
Parece impossível? Também não.
Então como isso se daria? Facilmente!
Em vez de temê-la, que a esperemos com ansiedade. Que revertamos os valores e os padrões de beleza
e transformaremos os danos da velhice em bens preciosos.
Imaginem que felicidade se assumíssemos a postura de enxergar o declínio da juventude como um fator de exuberância e esplendor.
Imaginem que estimulantes as conversa e as observações fluindo desta maneira:
Ester engordou, está cheia de pneus, uma maravilha, vou pedir-lhe o endereço do médico que a está tratando.
Marina adquiriu as desejadas celulites, foram tantos tratamentos, mas agora conseguiu obtê-las. Anda feliz da vida!
Não vejo a hora de ficar com os peitos iguais da Amelinha. Quase alcançam o umbigo! Uma perfeição.
Ivete já voltou da Europa. Fez plástica por lá, com um ótimo cirurgião. Está com o rosto plissadinho! Maravilhosa, quase não a reconheci.
Magnólia, enfim, conseguiu ter o couro cabeludo à mostra! Anda radiante. Só não conta o segredo do que passou nos cabelos para caírem tão rapidamente.
Ingrid até que enfim pode usar regatas, seus braços exibem uma flacidez invejável.
As orelhas da Maria Alice, magníficas, cresceram tanto que ela nem mais precisa usar brincos. Eram tão acanhadinhas, as coitadas!
Clementina, logo mais, fará plástica no nariz, Disse-me que ele está ainda muito pequeno
e, irritantemente, arrebitado. Quer aumentá-lo e envergá-lo o máximo possível.
Os cotovelos da Melina estão pregueadinhos, não sei como os conseguiu tão graciosos!
E as mãos de Maitê! Nossa, não tem pra ninguém, nunca vi outras feito as delas, já estão
lindamente vincadas, logo mais estarão plenamente amassadas.
Da Idalina, o pescoço e o colo, juro, perfeitos, impecáveis! Não mais mostram aquela pele lisa, esticada, horrorosa.
Que sorte deste pessoal! Envelheceu precocemente. Um dia ainda chegarei lá!

E então? Não é uma ótima saída?
Bem, e isso é tudo, ou quase...

Senhores e senhoras formadores de opinião, abracem esta causa, afinal , um dia também sofrerão com desmandos
do tempo e com a força da mão da gravidade.
Que os valorizemos com fervor.

Obs.: Tomei o cuidado de não colocar nome de ninguém da minha família,
nem das minhas amigas, senão...ai, ai, ai....

26 de julho de 2011

Opostos

maria da graça almeida



Do solicitante,

o tempo é ansioso.

Do solicitado, moroso .



Os tempos diferem,

as metas são desiguais.

Os caminhos, opostos.

Um segue a trilha da aflição,

o outro, o rumo do enfado .


Do solicitante, a ansiedade

usa os andrajos da humilhação,

as vestes rotas da humildade.


Do solicitado, a disponibilidade

exibe a coroa do descaso

e o cetro da superioridade
Carência

maria da graça almeida



Secura de mim.

Vazo de um vaso trincado,

sem a querença, sem a crença

e a certeza do amanhã.

Vida que vadia resfolega

sob o relógio que se arrasta

entre a solidão matinal

e a noite fria...ermitã.

24 de julho de 2011

Quelelê- O jurássico Vós

Quelelê
maria da graça almeida

Ai, Senhora das boas línguas,
rogai por eles, os fuxiqueiros,
não permitais que o mundo inteiro,
de petas, calúnias e injúrias,
transforme-se em vasto celeiro.

Ai, donas das línguas felinas
não deixeis que vossas bocas ferinas
levantem falsos testemunhos,
assinando de próprio punho
a maledicência feminina.

Ai, mulheres da língua limosa,
calai os lábios infecundos.
Que apenas as falas zelosas
traduzam o âmago do homem
e cuidem da alma do mundo.

20 de julho de 2011

João,

eis que me ponho descontraída,
sentada à mesa, com a marca Brahma,
em grandes letras, cotovelos apoiados, displicente,
esquecida da etiqueta, ouvindo sem ser ouvida,
vendo sem ser vista, da timidez distraída,
embriagada da presença de meus ídolos,
quando neles descubro uns mitos tão homens
e uns homens mais mitos.
Quantas vezes desejei, tal qual sorrateira mosca,
pousar, não na sopa do Raul, mas nos mais inusitados
e inacessíveis lugares, onde, invisível ao espetáculo,
ainda que cotidiano, repousasse por prazer, gosto e vontade,
sem proibição,reserva ou punição.
E, hoje, sem metamorfose, nem deslocamento físico,
finalmente, aterrissei! Você conseguiu o milagre!
Lendo Toquinho, conheci mais Vinícius,
ficamos amigos, lendo Vinícius,
descobri mais Toquinho e mais Toquinhos,
somos parceiros, ainda que nem saibam
ou, desconfiem!
Participar de tão milionários mundos interiores,
sem a preocupação de ser inconveniente,
sem o temor de importunar, preservando-lhes a privacidade
e o direito de comumente viver,
traz-me a confortável sensação do respeito pelo espaço alheio
e a peculiar serenidade do bom senso.
E você, heim, João! Como diz bem!
Que saborosa fluência! Quão envolvente é sua palavra!
Em proseando, poeticamente desvenda intensos mistérios,
com os quais ludibriamos o tempo, desprezamos as distâncias
e, vibrantes,arremetemo-nos de corpo,cabeça e sentimento
a momentos e lugares singulares e especiais.
Obrigada, João Pecci, por despi-los de uma forma
surpreendentemente clara e bela e sublime.


Um grande abraço, cheio de admiração!
Jamais emudeça. Continue dizendo...
sempre...

Maria da Graça Almeida
Atraso

Maria da Graça Almeida

Conheci minha mãe,
então, mãe de cinco filhos!
Conheci-a já cheinha
de corpo e preocupação.
Não sei se fui bem-vinda,
às vezes penso que não!
Já lhe pesava a idade
e uma barriga a mais,
numa idade avançada,
ainda pesa tão mais!
E assim mesmo apareci,
mesmo sem ser convidada,
mesmo sem prévio aviso,
mesmo sem hora marcada!
- Ô mãe, desculpe
minha visita inesperada!
Quando já queria repousar,
desnudando a idade;
quando, calada, retratava
só a doce santidade;
quando a pálida boca
não mais tinha vaidades,
chego eu distraída, atrevida,
toda em bronquite,
e outros itens em ite,
que a obrigaram
na madrugadas sombrias,
nas noites quentes ou frias,
a caminhar pela casa comigo
no colo envelhecido,
colo que mais merecia,
num bom leito, relaxar;
colo com missão cumprida,
de vida, enfim, resolvida
prontinho pra descansar...
- Ô mãe, quantos anos eu lhe devo?
Imagino... mas ainda assim me atrevo,
nestes versos, a indagar!
Ô mãe, de anos e anos já muitos,
de tempos de alto custo,
quase a mato de amor,
depois de matá-la de susto!

Maria da Graça Almeida

7 de julho de 2011

Nada com nada

Nada com nada

maria da graça almeida


Trovas

O amor que cedo arrefece
da rotina é refém,
o nariz que muito cresce
mede mentiras de alguém.

O petiz que empina a pipa
nasceu de cara pintada,
sobre um berço de ripa,
dentro da casa caiada.

A vida de todos nós
tem contornos e debruns,
desde a barra até o cós
a costura é incomum.

A reza é a prece silente,
de quem nasceu para o bem.
A lima com mais sementes,
mais doce o caldo contém.

O vento que venta forte
traz a poeira do além,
se um dia saudar-lhe a morte,
convide-a a morrer também.

A tarde chega brilhante,
ofusca os olhos de quem
ao dia é rico gigante,
à noite, anão sem vintém.

5 de julho de 2011

Do livro Olhos Espertos de maria da graça almeida



Peixe
maria da graça almeida

O peixinho prateado
no aquário sempre vejo!
Bem me fita, o assanhado,
só querendo me dar beijos.

Sua boca um “oi” miúdo
vai dizendo e isso é bom,
só o peixe, neste mundo,
fala “oi”, sem soltar som.

Seleção de poemas infantis

Serafina
maria da graça almeida

Serafina, Serafina...
sempre a vejo na janela!
Será grossa ou será fina,
sua canela, ó menina?

Serafina, Serafina,
eu ainda hei de vê-la
corpo inteiro, na esquina,
sob as luzes das estrelas.

Seu sorriso é agigantado,
os olhinhos são brilhantes,
o nariz, tão empinado,
o pescoço, elegante!

Minha doce, Serafina...
o rostinho já conheço,
e sua perna, ó menina,
será grossa ou será fina?
DO livro Olhos Espertos, poemas para criança

Homens de uma só mulher

Homens de uma só mulher
maria da graça almeida

As vantagens de ser homem de uma só mulher
são muitas. Poderíamos enumerar várias delas,
porém vivemos o tempo da concisão e da brevidade.
Os homens de uma só mulher não sofrem de
ansiedade, são felizes, serenos, realizados.
Bons maridos e pais, ótimos avôs, amigos sinceros
e colegas amáveis, desconhecem a dor das surpresas
desagradáveis, não atropelam o tempo,
são inteiros, indivisíveis. Andam alinhados com
o conformismo, não o conformismo que tolhe
a evolução e sim o que conforta e proporciona a paz.
Seguros , proporcionam segurança.
São dotados de extrema tolerância, não a tolerância dos tolos,
mas a dos pacificadores. Valorizam a amizade, a cumplicidade,
a solidariedade.

Não são volúveis, nem indecisos, têm a determinação
como característica de personalidade.
Enfim, os homens de uma só mulher são homens
especiais! E raros, posto que estão em extinção.
Em contrapartida... há um custo que lhes onera
a vaidade.
Com dissabor, constatam no envelhecimento
da companheira o enredo do próprio envelhecimento.

Agora, pasmem: os homens de uma só mulher,
são sobretudo homens de mulheres sós.
O cotidiano implacável faz com que não
enxerguem a mulher especial, forte, corajosa
que têm ao lado, ainda que elas passem a vida
proporcionando-lhes a condição e o conforto
de serem homens de uma só mulher.

Do lIvro Olhos espertos de maria da graça almeida




Assovio de garoto
maria da graça almeida

Chega leve aos meus ouvidos
um ventinho musical!
Feito o som dos passarinhos,
outro, nunca ouvi igual!

Sopro de vento desperto,
doce brisa natural.
Vento que venta bem perto
não resfria, não faz mal.

Que a tristeza não espante
o ventinho tão maroto
que o vento sempre cante
no biquinho do garoto!

5 de junho de 2011

Amigos

-Trecho do novo livro: A Substituta- romance por Maria Da Graça Almeida,

Amigo é a extensão de nosso corpo, que tem vida própria. Não pensa, nem age como agimos, mas conosco interage como se fosse o terceiro braço de um mesmo corpo.

Não se envergonha de nossas fraquezas; não recrimina nossos deslizes; não nos aponta as vilezas; não nos dita regras; não nos impinge culpa; não nos exige juventude eterna...

Compreende nossas limitações. Entristece-se com nossos pesares; chora as nossas dores; emociona-se com nossa emoção; sorri com nossos sorrisos; sonha os nossos sonhos.

Amigo é aquele que consegue aplaudir as nossas glórias, assim como consegue oferecer-nos o ombro quando dos nossos fracassos.

Quando parte, perdemos um braço! Ficamos menores, mais frágeis, mais tímidos, mais sós...

Amigo é para a vida inteira, ou para apenas um segundo, feito a aparição meteórica, que se perpetuará fortemente impressa em nossas retinas.

maria da graça almeida

31 de maio de 2011

Formigas

Formigas
maria da graça almeida

Acomodo minha indolência
na cadeira preguiçosa
e o máximo que me deixo fazer
é estirar braços e pernas
na exata medida
de uma manhã desprovida
do acontecer.
Enquanto isso,
flagro as formigas
que, no silêncio
das filas em "ziguezague",
atrevem-se.
O bolo amanteigado de ontem
amanheceu sardento.
Centenas delas desbravam-no.
Roubam-me, as descaradas.
Movimentam-me o olhar
no movimento da marcha em retirada.
O que antes era bloco imóvel e único,
agora caminha multiplicado.
Adocicados fragmentos,
entremeados, passeiam nas
patinhas gulosas
das formigas “tarefeiras”.

29 de maio de 2011

Livre

Livre
maria da graça almeida

Traga sempre na lembrança:
desprezo receitas,fórmulas,
desde minha tenra infância,
repudio regras, normas.
Abomino as cobranças
e tampouco as reconheço.
Ao jugo e à intemperança,
juro, não me submeto.
Quem me desejar cativa,
que abuse da sedução,
o limite que dela deriva
respeito com mansidão.

14 de maio de 2011

Celebridade

A juventude sente a falta de ídolos.Ou a juventude anda sem condições de reconhecer um ídolo verdadeiro. Motivo este que faz com que os personagens que despontem na mídia, mesmo sem marcar sua aparição com atos e feitos relevantes, mereçam admiração e a atenção dos jovens-...bem, só deles não, dos ditos experientes também.
Há uma corrida desenfreada em busca dos ”famosos" numa fabricação enganosa de talentos,na canonização de falsos santos, na veneração de pseudo-deuses.
Para ser celebridade hoje basta a carinha estampada na tela por algum tempo; celebridade não é mais o que os dicionários definem: reputação ilustre e estabelecida, notabilidade, renome.
Houve uma total distorção dos valores, não sei se por conta da precariedade de informações da população ou se da real escassez de celebridades vivas.
Perguntem às pessoas quais os seus ídolos. Aposto que ficarão decepcionados com as repostas e começarão a entreter-se com o mesmo questionamento que tenho agora: quais seriam as verdadeiras celebridades atuais? Creio que não conseguiríamos relacioná-las nem apenas nos dedos da mão esquerda.
Que prevaleçam, então, a admiração pelos nossos mortos célebres. Que a eles se voltem as nossas lembranças.
Glória aos imortais! Salve, salve!

13 de maio de 2011

A banda

A banda
maria da graça almeida

No lombo do vento,
nos ombros da chuva,
espero desnuda
a banda passar.

Retomo o assento
no colo do tempo,
aguardo, sem par,
a banda passar.

A vida sem graça,
que cedo espio
da velha vidraça,
não enche vazios.

Nas vilas da vida,
a banda não passa.
No mundo de Deus,
quem passa sou eu.

11 de maio de 2011

De mim para mim

De mim para mim
maria da graça almeida

Esta é uma homenagem singular.
É homenagem que eu mesma me propus a prestar-me, posto que a considero justa e devida.
É homenagem do meu eu pessoa, para o meu eu mãe.
Gostaria que outras mães fizessem o mesmo, se, realmente, julgassem -se
merecedoras. Em paz eu ficaria se merecedoras todas o fossem.
Homenageio-me hoje, não movida pela comemoração convencional da data,
homenageio-me, sim, por ter sido uma mãe prudente e cumpridora dos deveres.
A calma habita minha alma...Cuidei, orientei, formei, informei. Acompanhei todas as fases da vida de minhas filhas,das mais amenas às mais conturbadas, com olhos atentos, com ouvidos aguçados.
Não descuidei de seus sentimentos, não me poupei ao envolver-me em seus sonhos, em suas frustrações e expectativas.
Mantive-me vigilante e presente, usei o Não sempre como forma de proteção, de carinho.
Dentro da minhas possibilidades, observei-lhes as necessidades físicas emocionais, respeitei-lhes as diferenças sem compará-las, sem confrontá-las, agindo com a justiça dos meus princípios morais e do meu conceito humanitário.
Não desconsiderei seus desencantos, nem desvalorizei suas conquistas.
Estive pronta para atuar em todas as situações que demandassem energia e pulso firme, assim como nas em que a delicadeza e compreensão fizeram-se prementes.
Por isso, hoje, imodesta, dou-me o direito de parabenizar-me e estendo tal felicitação às mães que, a despeito das dificuldades, dignamente, assumiram seu papel, papel este que só se aprende nos livros da intuição e na escola do amor.
Desejo-me, ainda, que, durante meu tempo de permanência junto às minhas filhas, não cometa nenhum deslize, que lhes comprometa a saúde física, mental e a felicidade, bem como o orgulho que, estou certa, elas sentem pela mãe, que bem desempenhou sua missão.
Desejo, ainda, que elas também, um dia, julguem-se no direito da auto-homenagem, pois assim, mais do que nunca, revalidarei as verdades da mensagem, a que ora me destino...

11 de abril de 2011

Massacre

Massacre
maria da graça almeida

Com sofreguidão e sem pena,
num dia parido sem paz,
o delírio escreveu vil poema,
que imêmore não será...Jamais!
O coração está cheio de vazio
e o peito de vazio ficou cheio.
A insanidade com insensatos fios
ceifou belos sonhos ao meio.
O cemitério inflou-se de túmulos
ao sepultar jovens alunos,
agora no luto que é múltiplo
o pesar dilatou o seu turno.
A sombra da abjeta solidão
vagueia entre carteiras solitárias,
o desvario com maligna mão
arrancou inocentes da área.

8 de fevereiro de 2011

Sem conserto

Sem conserto!
maria da graça almeida

O bom e simples Vicente,
encontrando um amigo recente,
convidou-o à mesa de um bar
e puseram-se a conversar.
Entre goles mais além
e do povo o vaivém,
dos filhos contavam os feitos,
gabando-os lindos, perfeitos.

De repente na calçada,
franzinas, acanhadas,
surgiram três moças na praça,
andando com pressa, sem graça!

Vicente, assim que as notou,
ao amigo observou:
- Bem feia é a moça do canto,
causa-me, até, certo espanto!
- Sinto muito, amigo Vicente,
por sua pouca mesura,
mas aquela moça do canto
é Ana, a minha caçula!
- O amigo não entendeu,
não é a daquele canto,
falo é da moça ao lado,
a que tem o xale franjado.
- A moça quem se refere
e em quem seu veneno desfere,
tão somente é minha mulher
e não uma outra qualquer!
- Creio que mal me expliquei,
não são as das laterais,
refiro-me à que está no meio.
Desta, sim, o rosto é feio!
- A moça que está no meio,
de quem, sem delicadeza,
você diz do rosto feio,
é minha filha, a Tereza!

E pra terminar a história,
Vicente resolve ir embora,
dizendo com muito respeito,
antes do pé para fora:
- Desculpe-me, caro amigo,
por minha rude maneira,
mas nem lhe posso dizer,
que foi mera brincadeira.
Mais honesto é admitir-me
enredado numa teia,
já que a família inteira,
não tem jeito...é muito feia!

15 de janeiro de 2011

Cordilheira

Cordilheira
Escrito por maria da graça almeida
Qua, 20 de Agosto de 2008 05:45
No Chile há muitos poetas. Não conseguia, eu, compreender o motivo de tal concentração, até quando, num hotel de Santiago, onde a janela abria-se despudoradamente para a magnitude das Cordilheiras, entendi! Envolvida por certa magia e estranha fantasia, consegui descobrir no perene espetáculo a abundância da fonte de onde flui a inspiração do chileno. Aí não tive saída, vigiando minha respiração, que já pressentia ofegante, larguei-me a escrever, olhando pela janela como se mirasse um quadro revelador das fronteiras do alumbramento e do limiar da alucinação.
Maria da Graça Almeida

Cordilheira
Maria da Graça Almeida

"Pós sinto" as pegadas dos deuses latinos,
pousando os pés divinos
sobre terras elevadas,
virgens meninas despenteadas.
Se uns o fizeram sutilmente,
outros calcaram de forma tal o chão,
que o viram, entre um passo e outro,
subir em altos picos, em duros bicos.

Meus olhos vagam pelo espaço alongado, recortado, sinuoso...
Galgam íngremes montanhas e, vertiginosamente,
despencam em quedas livres e fatais.
Depois, dão-se a escorregar e deslizar em pisos lisos,ou a rastejar, arranhando-se na aspereza da textura visual.

Quando, dos anjos meninos, o sopro cálido
derreter o frio espesso e alvo que se moverá,
graciosamente, sobre a austeridade do marrom,
meu ser todo frágil, tolo e perplexo,
suspirará ante o imensurável espetáculo
do perpétuo bolo achocolatado,
coberto por um branco e absurdo glacê,
que lindamente escorrerá desenhos
abstratos e fantásticos, jamais
consumidos por simples mortais.

Às vezes os Deuses sabem ser cruéis!
Muitos deles zombam da impotência dos homens.
Outros lhes testam o tamanho do conformismo.
Nem tudo o que fartamente lhes expõem aos olhos,
facilmente lhes dispõem às mãos.

12 de janeiro de 2011

O vento

O vento
maria da graça almeida

O vento chega-me à porta,
rodopia, vai e volta.
Entra sem ser convidado,
vem sozinho, sem escolta.
Desalinha-me os cabelos,
embaralha meus papéis,
sopra sobre os travesseiros
leva ao chão os meus anéis
Incomoda meu descanso,
assobia sem balanço.
E eu lhe peço nessa hora:
- Não quer ir ventar lá fora?
E o vento assanhado
diz sorrindo, bem a gosto:
- Pra sair sou obrigado
a ventar sobre seu rosto.

maria da graça almeida

Cenário bucólico

Cenário bucólico
maria da graça almeida

Doce de leite, abóbora e coco,
beijo roubado da boca do moço,
rede estirada ao sol de relance,
livro da vida esquecido na estante.

Vento ventando cantigas de amor,
crista do galo empanada na cor,
lenha a estalar no tosco fogão,
cheiro gostoso de sopa e feijão.

Bicho que pica, coceira que vem,
tarde chegando no apito do trem...
Sapo coaxa sem graça, arredio,
garça se mira nas águas do rio.

Égua que trota levanta a poeira,
homem, voltando, traz pó na canseira.
Dona a acenar na porta da casa,
ave se assusta e apressa as asas.

Filho que chora, chupeta no chão,
pão ressequido na palma da mão.
Riscos no céu, a paisagem se turva,
luz que se apaga é indício de chuva.

Cruz na janela, uma vela acesa,
prato trincado faz mais pobre a mesa.
A sopa e o feijão da pouca tigela,
não chegam à gata, não há para ela!

Sono batendo, um sopro à chama,
corpo cansado impõe peso à cama.
Sonho do homem inda é colorido,
mesmo com fome, outro filho é bem-vindo.

Maria da Graça Almeida
Da antologia da Confraria dos Poetas
Poesia com manteiga
maria da graça almeida

Prometeu-me ambrosias,
Literata, a cozinheira,
pelo gosto da estréia,
cheguei presta e faceira.

Só vi versos com geléia
e poesia com manteiga,
certas rimas lambuzadas,
emborcadas sobre a teiga.
Pus-me tonta e enjoada
da poesia e da manteiga.

No almoço, em contraponto,
terei letras de grandeza.
Um gostoso miniconto
será minha sobremesa.
Torço pra que Literata
desta vez não erre a mão
ou provarei pela errata
o sabor da indigestão.