31 de maio de 2011

Formigas

Formigas
maria da graça almeida

Acomodo minha indolência
na cadeira preguiçosa
e o máximo que me deixo fazer
é estirar braços e pernas
na exata medida
de uma manhã desprovida
do acontecer.
Enquanto isso,
flagro as formigas
que, no silêncio
das filas em "ziguezague",
atrevem-se.
O bolo amanteigado de ontem
amanheceu sardento.
Centenas delas desbravam-no.
Roubam-me, as descaradas.
Movimentam-me o olhar
no movimento da marcha em retirada.
O que antes era bloco imóvel e único,
agora caminha multiplicado.
Adocicados fragmentos,
entremeados, passeiam nas
patinhas gulosas
das formigas “tarefeiras”.