4 de maio de 2010

POEMAS CURTOS - Sulcos - Natureza Humana - Durante



POEMAS CURTOS

Sulcos
maria da graça Almeida

Talvez só um riso escancarado
aliviasse o amargor do ricto
que nos envelhece a face.
Não adianta a maquiagem.
Na solidão de um ventrículo vazio,
na seriedade de um ventríloquo mudo
não há disfarce que suavize
uma boca entre parênteses.


Natureza Humana
maria da graça Almeida

Sorriso enluarado,
longos braços de mar,
olhos de chuva leve,
mãos de doce ventar,
riso de queda d´água,
seios, vastas colinas,
cabelo, anel de nuvens
pernas, árvores finas.

Durante
maria da graça almeida

Durante é a hora
do tempo presente,
é tempo de agora,
que morre depois.
No tempo distante,
é tempo carente,
que fora do tempo,
perdido se foi.

Miséria


Miséria
maria da graça almeida

A fronte suada
que toca o chão,
sem fé ou certeza,
sem força pra nada,
suplica-lhe o pão
que cedo lhe falta.
A terra, que nega,
o braço suspende,
o grão não entrega,
a mão não estende.
O abutre tem pressa.
E, parca, a carcaça
nem enche o ventre
da ave que a caça.
A fome da ave
tem fome do homem
e a fome do homem
-eterna desgraça-
perpétua, não passa,
perene, não some-.

Conquistas
maria da graça almeida

Para o aprendizado e crescimento do homem,
o não inevitavelmente contribui,
seja ele de real ou de aparente contundência.
O que vem pronto não se busca;
do que não se busca não se apropria.
Da mão beijada, a chuva passageira;
do suor da conquista, a hidratação permanente.
O que se ganha é a efemeridade do ramalhete;
o que se planta é a certeza da semente.