11 de abril de 2008



O rio
maria da graça almeida

Rola o rio adormecido e mudo,
em cochicho miúdo, absurdo!
Desliza em cochilos alados,
num leito molhado e cansado.

Rola o rio em embalo trôpego,
com sibilos roucos e sôfregos.
Verte um choro machucado,
benevolente ou irado.

E rola descendo a serra,
em desgraça ou benefício,
ora mata a sede da Terra,
ora afoga-a em desperdícios.

Incauto, ignora o rio:
se a terra assim o quisesse,
dele faria um só fio,
antes que a cheia viesse.