3 de maio de 2010


Perplexidade
maria da graça almeida

Diante de fatos escandalosos e atos que ferem a dignidade de qualquer indivíduo de “bom caráter” percebemos três tipos olhares, com a capacidade de transmutarem-se no decorrer do tempo, por meio da frequência com que os episódios acontecem.
O habitual não é estranhável. A bem da verdade, não sei se absorvemos os hábitos ou se eles nos absorvem...

1- O primeiro olhar é o da lucidez. Permite-nos que, ao nos depararmos com fraudes, falcatruas, ignomínias, fiquemos estarrecidos, perplexos; inibamos a fé na humanidade. Passemos a achar que somos o único grão de trigo em meio de uma plantação de joio.

AÍ, GRITAMOS, ESPERNEAMOS, SAÍMOS PELAS RUAS EM PROTESTO!

2- O segundo olhar é o olhar da preguiça, enxergamos, mas não temos a disposição suficiente para agir com contribuição positiva na tentativa de acertamos o desacerto. É como se estivéssemos anestesiados das virtudes, dos princípios. É como se nossos valores estivessem desbotando e o véu da inércia tolhesse-nos as reações necessárias.

AÍ, SUSPIRAMOS, BOCEJAMOS E VAMOS DORMIR DE PANTUFAS!

3-O terceiro olhar, o mais perigoso, é o que comumente anda vazando pelos olhos, principalmente os dos brasileiros. É aquele que enxerga bem, capta a essência dos fatos, mas que se tivesse a oportunidade compactuaria com as vergonhas, com as vilezas que também o fizessem usufruir os privilégios.

AÍ, DAMOS DE OMBRO E SONHAMOS COM UM IATE, UM JATINHO E UMA COBERTURA NA VIEIRA SOUTO.

Infelizmente, este, o pior dos olhares, é o que mais comumente
encontramos por aí.
Valha-nos, Santa Luzia, a santa protetora dos olhos!

Em que situações já usamos os olhares 1, 2 e 3?
Fácil:
Olhar 1- escândalo do Executivo-
Olhar 2- escândalo do Legislativo -
Olhar 3- escândalo do Judiciário -
(Até tu Brutus?)
Corruptos julgam corruptos?


ENTÃO... A QUEM RECORRER?
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Ei! Querem tirar os olhos de meus carros novos? Acertei na loteria...vinte e sete vezes!

Língua líquida
maria da graça almeida

A líquida língua vaza! Infiltra-se entre os dentes, rompe os limites dos lábios, gotejando boca afora ou entornando livremente... Não há fronteira que a reprima, não há limite que a contenha. O dono da língua líquida possui ouvidos alados que saem pelas orelhas, lúcidos ou atordoados, diretos ou de qualquer maneira e, colhendo informações, voam pra todo lado! Temo essa língua por ela, pelos ouvidos que a acompanham e por todos ouvidos alheios nos quais chega, sem medo, a relevar os segredos. Se uma dessas, liquefeitas, vem molhar-me os ouvidos, afasto-a rapidamente, secando depressa o líquido, temendo que tal proximidade, impune, contamine-me a língua e que por momentos, instantes ou pelo restante da vida, liquefaça-a abundante, infame larga, solta e incontida...