29 de setembro de 2011




Mulheres e árvores

maria da graça almeida

A roupa estava separada. Faltava escolher o cinto.
Optei pelo marrom. Antigo, porém continuava na moda, ela é assim, vai e volta! Ótimo!
Surpresa, ao tentar colocá-lo, notei-o extremamente pequeno. Fiquei a olhá-lo, a revirá-lo, boquiaberta! Será, diabos, que encolheu? Não, pelo que eu saiba, couro não encolhe. Concluí, entristecida, que minha cintura já não mais era a mesma.
Então, um dia eu tivera tal cinturinha? Mal podia crer. Era uma “coisiquinha”, um anel...

Ainda bem que quando a cabeça tem condições de raciocinar,
arranja-se um jeito de minorar as inquietudes...ou de fazê-las maiores, depende...
Para garantir-me a tranquilidade, resolvi refletir: somos como certas árvores! Nascemos feito simples folhinha. Aí, crescendo, temos o tronco delgado e flexível, para suportamos as quedas; as árvores têm-no para sobreviverem ao vento.
Tempo correndo... e vislumbramos o caule a engrossar; observamos nosso corpo a se avolumar. Mulheres e árvores, estruturas e destinos semelhantes.
Olho-me no espelho e ali, de repente me vejo refletida, tal qual árvore adulta. Dera sombra; dera frutos, que já deram os seus também. Tudo certo! Mulheres maduras, árvores maduras não mais envergam, seguem firmes, com galhos fortes, que, para o deleite de muitos e delas próprias, muitas vezes suportam a corda dos mais pesados balanços.

Valeu! Sem tristeza guardei o cinto, que, doravante, envolverá cinturas mais finas, as das meninas, frágeis árvores em desenvolvimento.

Agora, quando passo pelas ruas, facilmente reconheço no arvoredo as espécies ainda adolescentes e as, visivelmente, senhoras.
É a força da renovação, o poder da perpetuação. A vida é assim, para todos, faz parte da nossa natureza. Havemos de nos confomar.

23 de setembro de 2011

Poesia

Poesia

maria da graça almeida

Do suspiro fez-se a lenda
e da lenda, a fantasia,
que nasceu enluarada
e chamou-se Poesia.
De um ponto fez-se o conto,
de um canto, o acalanto,
de onde flui a sintonia
da mais doce melodia.
Da ausência fez-se o pranto
e da dor, a elegia,
onde o verso penitente
da clausura fez morada
e nessa entranha inclemente
soam rimas malfadadas.