28 de agosto de 2011

De repente

De repente
maria da graça almeida

De repente do fruto maduro,
a semente cola nas mãos,
de repente um grão distraído
enterra-se fundo no chão,
de repente a folha com vida
espia um cenário rasante,
de repente um galho mais alto
vislumbra o horizonte adiante,
de repente, o tal de repente
tornou-se de vez permanente
e com natural silhueta
de verde colore o planeta.

18 de agosto de 2011

Ao meu amor



Ao meu amor

Maria da Graça Almeida

Sem dúvidas, hoje eu sei
você, sim, é o meu rei,
ontem foi príncipe infante,
hoje é meu herói relevante!

Um homem de olhar menino,
meu tesouro masculino,
da lira, o tom maior,
das minhas metades, a melhor!

O dono do meu amor,
forte luz multicolor,
compõe a paixão no plural,
amaina meus vendavais!

Seu ser calmo e profundo
traduz a essência do mundo,
resgata com temperança,
minha alma criança.

Conquista-me de um certo jeito,
em versos mais que perfeitos.
Com gestos de pura doçura,
espalha magia e ternura!

Conferindo seu meigo rosto,
enquanto amiga e amante,
assumo tão alto posto,
serena e confiante!

Rogo que nossos destinos
caminhem sem desatinos,
trilhando as mesmas pegadas,
juntos e de mãos dadas.

E quando outra vez crianças,
cabeças pálidas, brancas,
que, frente a indícios de escombros,
um do outro tenhamos o ombro!

13 de agosto de 2011

Caneta vermelha

Caneta vermelha
maria da graça almeida

Não transmudem a poesia,
nem violentem os poemas,
o que vale é o que a alma desenha
com os pincéis do alumbramento.
Não dilacerem o dito
no afã do grito alheio.
Deitem o pensamento,
a percepção, os motivos,
de acordo com seus sentimentos.
Não se predisponham
aos óculos, às bengalas.
O dom caminha com boas pernas
e a arte nunca foi cega.
Afastem a caneta vermelha,
o que vale é o rito, a lenda,
o mito da autêntica entrega.
Sigam fiéis a seus versos,
não permitam que terceiros
alterem-lhes os manifestos,
dilatem ou os partam ao meio.
Somente a letra própria
oferece as pistas
de um momento pessoal
e da original intenção
do artista.

12 de agosto de 2011

Descansa, poeta

Descansa, poeta

maria da graça almeida

Descansa, poeta,
a vida é uma festa!
a lua apontou!
Repousa com graça,
nos bancos das praças,
ninguém te ameaça,
a alegria raiou.

Sorri das belezas!
A vã incerteza,
o tempo levou.
O verso é grandeza,
A rima é certeza,
o poema, a nobreza
que alma ganhou.

Mas, quando, poeta,
um dia, sentido,
da cor, distraído,
o amor terminar,
levanta sem graça,
nos bancos da praça,
a dor vai chegar.

Aí, chora, poeta,
o amor que passou.
Ao fim dessa festa,
a flor definhou,
a rima é indigesta,
o verso não presta,
a Poesia acabou.