29 de janeiro de 2012

A sociedade só cuida bem dos que, pela origem, já foram bem cuidados. Aqueles que por parte do sistema financeiro, do núcleo familiar e do grupo de amizade não receberam a merecida atenção, pela coletividade, serão desqualificados. 

 maria da graça almeida

20 de janeiro de 2012

Boca esperta


Boca esperta
maria da graça almeida

Fala, fala, fala,
maquininha de palavras,
fala, fala, fala,
a boquinha não se cala.
Ri-se, ri-se, ri-se,
ri, sorri por quase nada,
ri-se, ri-se, ri-se,
sem motivo, a risada.
Chora, chora, chora,
soluçando, escancarada,
chora, chora, chora,
de uma forma exagerada.
Fala, ri e chora,
dia todo, toda hora,
fala, ri e chora...
sempre pronta,
sem demora.
A boquinha abusada
da alternância é senhora.

4 de janeiro de 2012

De repente,


De repente
 maria da graça almeida



De repente,
insiro-me no desleixo visual
ou na improdutividade da apatia,
deixo o espelho falando sozinho
ou o tempo correndo na inércia
de um relógio franzino.

De repente,
os valores viram pó,
a vontade ata-se em nós,
os desejos quedam-se aniquilados
e as expectativas jazem
num papel amarfanhado.

De repente,
o terço, a bíblia e a fé
tornam-se ateus,
o espaço, a minha volta, cresce
e eu decresço, neste mundo,
pigmeu...

De repente,
na impossibilidade dos passos,
prendo- me em famigerados laços,
e a letargia
sufoca-me, dia a dia.

De repente,
o sim endurece,
o não recrudesce
e o talvez fita-me
com olhar indiferente.

De repente,
o nada torna-se infinito,
o tudo se faz restrito
e, para sempre, a paz
transmuda -se
em conflito.