Sopro
maria da graça almeida
Há mais pessoas que sopram a chama para apagá-la,
do que as que o fazem para reavivá-la.
Maria da Graça Almeida, nascida em Pindorama - São Paulo. Escritora, poetisa, professora, pedagoga e formada em Educação Artística. Obras Físicas Publicadas: - Espelho - Poesias Sem Mistério - A Graça que o Bicho Tem - Que traça sem graça - Mitos do folclore - A Menina da janela - O Cuco Maluco - O Besouro doente. - Olhos espertos - A substituta -romance
28 de março de 2008
19 de março de 2008
Dentro de mim
maria da graça almeida
Dentro de mim
há um duende sem vida,
morreu de medo de morrer;
há um mofo iminente
na parede umedecida
pelo suor da solidão;
há a inquietude gelada
que flagrou o espectro sonolento
das mais frias madrugadas.
Dentro de mim
há a mágoa advinda
da perplexidade
diante da dormência
dos deuses e dos mitos.
Dentro de mim há um rito
de rebelião com causa,
mas, sem efeito ou direito
à perenidade humana.
Dentro de mim há um rio
que dia a dia resseca suas águas,
pois não suporta seguir
sem deixar rastros ou pegadas,
nem tolera ser limítrofe
das terras batidas
por onde a vida passa,
poeirenta e desprevenida.
Dentro de mim,
há o descaramento
que teima em ver -sem poder-
o fundo do poço,
o final da estrada
e o instrumento
que de vez distanciará
o denso, do sutil;
o corpo, da alma,
quando - insensato ou não-
irá submetê-los
à crueza da separação.
Entrelinhas
maria da graça almeida
Entregue-se ao solo do destino
e ao colo da poesia paraíso;
não fique à margem do caminho,
nem desbrave a terra do sozinho.
Molde o verso em redondilha,
com o cuidado de um santo,
pudores, recato e canto,
véus, capas e cantigas,
na mudez do doce segredo
de um recôndito desejo.
Faça do poema um verbo silente
e apenas o sustente,
provando-o com jeito,
posto que o pecado é um defeito
que todos os anjos têm medo.
Deixe-o renascer -num suave pranto,
sem testemunhas, com manto-
de um soluço de doçura,
que o sossegue da sua sede
de carinho e ternura.
Faça da palavra de candura
um tapete de suspiros,
onde cada amargura
adormeça sem gemidos,
e sem o insano perigo,
que impõe toda procura.
maria da graça almeida
18 de março de 2008
Sabe lá...
maria da graça almeida
Da morena esguia, o suspiro vasto; da ruiva robusta, o sopro exausto...
Vários ritmos, múltiplos passos, diversos pesos, o mesmo cansaço.
Impresso nos caminhantes, o tempo! Ora trôpego, mas a carregar uma aura de sabedoria e experiência; ora cambaleante -na indecisão dos primeiros passos-, isento de pegadas, de rastro; ora lépido, atrás das emoções,
dos sonhos próximos ou distantes, com crença, garra e força incomuns.
Sentada no banco úmido do parque, fitava-os espantada, nunca antes me rendera diante das surpresas, da magia e dos mistérios da vida, tampouco das evidências. Só viver é o que vale a pena -sempre foi este o meu lema-, porém percebi que a vida além de atraente, às vezes, sabe bem ser contundente.
Por isto hoje digo: viver vale a pena; morrer também!
Enquanto me conformava com tal descoberta, consolava minha filha que experimentava o mergulho inaugural na mais profunda depressão, e, sem saída, tanto quanto ela debilitada, ou inda mais, inventei, enfim, de ser forte...
Ofereci-lhe o que não tinha: otimismo, firmeza, coragem.
Como? Não sei...
Baixinho, arrisquei Djavan: “ sabe lá, não ter e ter que ter pra dar, sabe lá..."
maria da graça almeida
Da morena esguia, o suspiro vasto; da ruiva robusta, o sopro exausto...
Vários ritmos, múltiplos passos, diversos pesos, o mesmo cansaço.
Impresso nos caminhantes, o tempo! Ora trôpego, mas a carregar uma aura de sabedoria e experiência; ora cambaleante -na indecisão dos primeiros passos-, isento de pegadas, de rastro; ora lépido, atrás das emoções,
dos sonhos próximos ou distantes, com crença, garra e força incomuns.
Sentada no banco úmido do parque, fitava-os espantada, nunca antes me rendera diante das surpresas, da magia e dos mistérios da vida, tampouco das evidências. Só viver é o que vale a pena -sempre foi este o meu lema-, porém percebi que a vida além de atraente, às vezes, sabe bem ser contundente.
Por isto hoje digo: viver vale a pena; morrer também!
Enquanto me conformava com tal descoberta, consolava minha filha que experimentava o mergulho inaugural na mais profunda depressão, e, sem saída, tanto quanto ela debilitada, ou inda mais, inventei, enfim, de ser forte...
Ofereci-lhe o que não tinha: otimismo, firmeza, coragem.
Como? Não sei...
Baixinho, arrisquei Djavan: “ sabe lá, não ter e ter que ter pra dar, sabe lá..."
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