19 de março de 2008





Dentro de mim

maria da graça almeida

Dentro de mim
há um duende sem vida,
morreu de medo de morrer;
há um mofo iminente
na parede umedecida
pelo suor da solidão;
há a inquietude gelada
que flagrou o espectro sonolento
das mais frias madrugadas.

Dentro de mim
há a mágoa advinda
da perplexidade
diante da dormência
dos deuses e dos mitos.
Dentro de mim há um rito
de rebelião com causa,
mas, sem efeito ou direito
à perenidade humana.

Dentro de mim há um rio
que dia a dia resseca suas águas,
pois não suporta seguir
sem deixar rastros ou pegadas,
nem tolera ser limítrofe
das terras batidas
por onde a vida passa,
poeirenta e desprevenida.

Dentro de mim,
há o descaramento
que teima em ver -sem poder-
o fundo do poço,
o final da estrada
e o instrumento
que de vez distanciará
o denso, do sutil;
o corpo, da alma,
quando - insensato ou não-
irá submetê-los
à crueza da separação.

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