19 de março de 2008




Entrelinhas

maria da graça almeida

Entregue-se ao solo do destino
e ao colo da poesia paraíso;
não fique à margem do caminho,
nem desbrave a terra do sozinho.

Molde o verso em redondilha,
com o cuidado de um santo,
pudores, recato e canto,
véus, capas e cantigas,
na mudez do doce segredo
de um recôndito desejo.

Faça do poema um verbo silente
e apenas o sustente,
provando-o com jeito,
posto que o pecado é um defeito
que todos os anjos têm medo.

Deixe-o renascer -num suave pranto,
sem testemunhas, com manto-
de um soluço de doçura,
que o sossegue da sua sede
de carinho e ternura.

Faça da palavra de candura
um tapete de suspiros,
onde cada amargura
adormeça sem gemidos,
e sem o insano perigo,
que impõe toda procura.

maria da graça almeida

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