28 de junho de 2010

Tempo


Tempo
maria da graça almeida

Abomino fotografias, documentos inquestionáveis
da devastação peculiar do calendário.

Certa jovem, do retrato, intrigada me espia.
Ora idosa, ao vivo, sob pele curtida,
derrama passado e nostalgia.
Fito rostos e corpos, comparo-os
e percebo que do ontem pouco restou.

Se por um lado o tempo traz a minoração das dores,
por outro, submete-nos à engenhosa metamorfose.
Estranha ação. Intenso poder!

Tempo, tempo -amigo e inimigo para sempre-
se ao menos nos emprestasse o melhor das horas,
se eternizasse os dias
ou se não nos tatuasse seus momentos,
por certo nos livraria
do cruel exercício do envelhecimento.