31 de maio de 2011

Formigas

Formigas
maria da graça almeida

Acomodo minha indolência
na cadeira preguiçosa
e o máximo que me deixo fazer
é estirar braços e pernas
na exata medida
de uma manhã desprovida
do acontecer.
Enquanto isso,
flagro as formigas
que, no silêncio
das filas em "ziguezague",
atrevem-se.
O bolo amanteigado de ontem
amanheceu sardento.
Centenas delas desbravam-no.
Roubam-me, as descaradas.
Movimentam-me o olhar
no movimento da marcha em retirada.
O que antes era bloco imóvel e único,
agora caminha multiplicado.
Adocicados fragmentos,
entremeados, passeiam nas
patinhas gulosas
das formigas “tarefeiras”.

29 de maio de 2011

Livre

Livre
maria da graça almeida

Traga sempre na lembrança:
desprezo receitas,fórmulas,
desde minha tenra infância,
repudio regras, normas.
Abomino as cobranças
e tampouco as reconheço.
Ao jugo e à intemperança,
juro, não me submeto.
Quem me desejar cativa,
que abuse da sedução,
o limite que dela deriva
respeito com mansidão.

14 de maio de 2011

Celebridade

A juventude sente a falta de ídolos.Ou a juventude anda sem condições de reconhecer um ídolo verdadeiro. Motivo este que faz com que os personagens que despontem na mídia, mesmo sem marcar sua aparição com atos e feitos relevantes, mereçam admiração e a atenção dos jovens-...bem, só deles não, dos ditos experientes também.
Há uma corrida desenfreada em busca dos ”famosos" numa fabricação enganosa de talentos,na canonização de falsos santos, na veneração de pseudo-deuses.
Para ser celebridade hoje basta a carinha estampada na tela por algum tempo; celebridade não é mais o que os dicionários definem: reputação ilustre e estabelecida, notabilidade, renome.
Houve uma total distorção dos valores, não sei se por conta da precariedade de informações da população ou se da real escassez de celebridades vivas.
Perguntem às pessoas quais os seus ídolos. Aposto que ficarão decepcionados com as repostas e começarão a entreter-se com o mesmo questionamento que tenho agora: quais seriam as verdadeiras celebridades atuais? Creio que não conseguiríamos relacioná-las nem apenas nos dedos da mão esquerda.
Que prevaleçam, então, a admiração pelos nossos mortos célebres. Que a eles se voltem as nossas lembranças.
Glória aos imortais! Salve, salve!

13 de maio de 2011

A banda

A banda
maria da graça almeida

No lombo do vento,
nos ombros da chuva,
espero desnuda
a banda passar.

Retomo o assento
no colo do tempo,
aguardo, sem par,
a banda passar.

A vida sem graça,
que cedo espio
da velha vidraça,
não enche vazios.

Nas vilas da vida,
a banda não passa.
No mundo de Deus,
quem passa sou eu.

11 de maio de 2011

De mim para mim

De mim para mim
maria da graça almeida

Esta é uma homenagem singular.
É homenagem que eu mesma me propus a prestar-me, posto que a considero justa e devida.
É homenagem do meu eu pessoa, para o meu eu mãe.
Gostaria que outras mães fizessem o mesmo, se, realmente, julgassem -se
merecedoras. Em paz eu ficaria se merecedoras todas o fossem.
Homenageio-me hoje, não movida pela comemoração convencional da data,
homenageio-me, sim, por ter sido uma mãe prudente e cumpridora dos deveres.
A calma habita minha alma...Cuidei, orientei, formei, informei. Acompanhei todas as fases da vida de minhas filhas,das mais amenas às mais conturbadas, com olhos atentos, com ouvidos aguçados.
Não descuidei de seus sentimentos, não me poupei ao envolver-me em seus sonhos, em suas frustrações e expectativas.
Mantive-me vigilante e presente, usei o Não sempre como forma de proteção, de carinho.
Dentro da minhas possibilidades, observei-lhes as necessidades físicas emocionais, respeitei-lhes as diferenças sem compará-las, sem confrontá-las, agindo com a justiça dos meus princípios morais e do meu conceito humanitário.
Não desconsiderei seus desencantos, nem desvalorizei suas conquistas.
Estive pronta para atuar em todas as situações que demandassem energia e pulso firme, assim como nas em que a delicadeza e compreensão fizeram-se prementes.
Por isso, hoje, imodesta, dou-me o direito de parabenizar-me e estendo tal felicitação às mães que, a despeito das dificuldades, dignamente, assumiram seu papel, papel este que só se aprende nos livros da intuição e na escola do amor.
Desejo-me, ainda, que, durante meu tempo de permanência junto às minhas filhas, não cometa nenhum deslize, que lhes comprometa a saúde física, mental e a felicidade, bem como o orgulho que, estou certa, elas sentem pela mãe, que bem desempenhou sua missão.
Desejo, ainda, que elas também, um dia, julguem-se no direito da auto-homenagem, pois assim, mais do que nunca, revalidarei as verdades da mensagem, a que ora me destino...