11 de dezembro de 2011

"Mezzo" monorrrimo

"Mezzo" monorrrimo
maria da graça almeida


Vem da rua, vem do mato,
vem ligeiro, sem recato,
vem da vida, vem da vila,
vem da lida, vem sem laço,
varredura que bandida
põe em falso o meu passo.
Não tem eira, não tem beira,
não tem óculos, nem viseira,
volve o chão e traz poeira,
põe meu corpo em tremedeira,
aos meus olhos traz coceira,
aos ouvidos zumbe asneiras.

Vem segunda ou terça-feira,
vem depressa às carreiras,
fecha forte o portão,
bate firme a porteira,

vem sem braço e sem mão,
nem dá mostra de canseira.
Gira a saia da mocinha,
meu cabelo desalinha,
rodopia, sobe e desce,
invisível se encaminha
nem em sombra aparece.
Tanto vento é um tormento,
mesmo quando chega lento.
o tal vento nem aguento,
vem de fora, vai pra dentro.
Mesmo quando chega lento,
atrapalha bons momentos,
desafia o meu intento
de cedinho ir pra rua,
de olhar de frente a lua
de quedar-me em casa nua...