3 de junho de 2010

Borboleta


Borboleta
maria da graça almeida

Um rosto no espelho
mascarado dele mesmo...
É o tempo no vermelho,
falido, andando a esmo.
A mocidade esvaindo-se
sob olhares dispersos.
O viço subtraindo-se
diante dos alvos reflexos.

Que Deus nos auxilie
a enfrentar a realidade,
pois pior que a saudade
é a figura do passado,
que na sombra contrafeita
de um corpo alquebrado
teve a imagem imperfeita
e o semblante rasurado.

Bendita seja a lagarta
gosmento e grotesco ser,
porém fadado a ter
a imagem de uma floreta
que nas asas da beleza
faz voar a borboleta.

Um rosto no espelho
mascarado dele mesmo...
É o tempo no vermelho,
falido, andando a esmo.
A mocidade esvaindo-se
sob olhares perplexos.
O viço subtraindo-se
diante de novos complexos.

Baile de formatura


Baile de formatura
maria da graça almeida

No anel amarelo,
a pedra então falsa.
Franzido, singelo,
o vestido de alças...
Queria eu num elo
e em tempo da valsa,
o moço mais belo,
por força da graça.

E as moças donzelas,
as mais sensuais,
de rara beleza,
ao lado dos pais,
chamavam por ele,
pra ser o seu par,
o moço dourado,
o deus do lugar.

Meus ombros tremiam
e eu mais me agitava.
E ele gentil,
com todas dançava
e nem percebia
meu olho infantil,
colado ao seu...
Que céu sem anil,
que sina, meu Deus!

Findando a noite ,
a roupa amassada,
eu inconformada,
e a amiga me diz:
-É ele, está vindo!
Sorri! É feliz!
Chegando sozinho,
tão só por um triz
não erra o caminho!

Meu peito cansado
arfou exaurido,
então, apertado
e entristecido!

Enfim, ele chega
e falta-me o chão.
Sutil, a indagar,
segura-me as mãos:
- Disposta a dançar?

Acanhada e frágil,
não lhe respondi,
da amiga inábil,
resmungos ouvi.

O peito a pulsar,
senti-me sem ar,
descrente de mim,
não lhe disse sim.

Com a face sem cor
tentei me compor
e só fui capaz
de assim gaguejar:
- Agora, rapaz,
já nem quero mais.
- Que sorte fugaz!
- Diz isto, por quê?
- A mais linda valsa...
guardei pra você!