há 7 horas próximo a São Paulo ·
A primeira calça Lee
maria da graça almeida
Era feito um delírio... o sonho da "calça própria."
Não me sentia contente dentro de simples "rancheira",
com o coração palpitando por uma Lee verdadeira.
Porém tinha confiança no poder da intenção,
na força da esperança, na realização!
Quando de fato queria, queria até sem razão
e mais dias, menos dias, o que fosse, tinha às mãos...
E a Lee chegou de repente, embrulhada para presente.
Feliz, rasguei o papel e ela saltou duramente.
Dura, literalmente, era essa sua textura.
Mais de duas lavagens e seguia rija, segura.
-Bote-a em água pura - disse-me certa criatura-
a goma deixará o tecido, o cós, também as costuras!
Com pouca experiência e sem convicção,
fiz como orientada. Eu não tinha compreensão
e nem detinha ciência sobre calças importadas.
No balde ela permanecia e eu, longe da alegria,
debalde aguardava a vez dos sinais da maciez,
no entanto só sentia um sutil desbotamento
e a mesma rigidez, vindo de fora pra dentro.
Desejava-me moderna, porém o desalmado jeans,
de uma aspereza sem fim, nas tardes, sem boa frescura,
lanhava-me as pernas, o bumbum e a cintura.
Até que um belo dia, finalmente se entregou.
A água domou a corporatura da roupa teimosa e dura.
E a minha figura largou-se ao abraço quente
de uma veste importada, linda, justa e envolvente.
Dela, ainda trago o couro Lee guardado,
junto das boas lembranças da jovem que fui um dia,
feito fotografia da calça com a qual, orgulhosa,
constantemente eu me exibia...