3 de maio de 2010


Língua líquida
maria da graça almeida

A líquida língua vaza! Infiltra-se entre os dentes, rompe os limites dos lábios, gotejando boca afora ou entornando livremente... Não há fronteira que a reprima, não há limite que a contenha. O dono da língua líquida possui ouvidos alados que saem pelas orelhas, lúcidos ou atordoados, diretos ou de qualquer maneira e, colhendo informações, voam pra todo lado! Temo essa língua por ela, pelos ouvidos que a acompanham e por todos ouvidos alheios nos quais chega, sem medo, a relevar os segredos. Se uma dessas, liquefeitas, vem molhar-me os ouvidos, afasto-a rapidamente, secando depressa o líquido, temendo que tal proximidade, impune, contamine-me a língua e que por momentos, instantes ou pelo restante da vida, liquefaça-a abundante, infame larga, solta e incontida...

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