4 de maio de 2010

Miséria


Miséria
maria da graça almeida

A fronte suada
que toca o chão,
sem fé ou certeza,
sem força pra nada,
suplica-lhe o pão
que cedo lhe falta.
A terra, que nega,
o braço suspende,
o grão não entrega,
a mão não estende.
O abutre tem pressa.
E, parca, a carcaça
nem enche o ventre
da ave que a caça.
A fome da ave
tem fome do homem
e a fome do homem
-eterna desgraça-
perpétua, não passa,
perene, não some-.

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