20 de julho de 2011

Atraso

Maria da Graça Almeida

Conheci minha mãe,
então, mãe de cinco filhos!
Conheci-a já cheinha
de corpo e preocupação.
Não sei se fui bem-vinda,
às vezes penso que não!
Já lhe pesava a idade
e uma barriga a mais,
numa idade avançada,
ainda pesa tão mais!
E assim mesmo apareci,
mesmo sem ser convidada,
mesmo sem prévio aviso,
mesmo sem hora marcada!
- Ô mãe, desculpe
minha visita inesperada!
Quando já queria repousar,
desnudando a idade;
quando, calada, retratava
só a doce santidade;
quando a pálida boca
não mais tinha vaidades,
chego eu distraída, atrevida,
toda em bronquite,
e outros itens em ite,
que a obrigaram
na madrugadas sombrias,
nas noites quentes ou frias,
a caminhar pela casa comigo
no colo envelhecido,
colo que mais merecia,
num bom leito, relaxar;
colo com missão cumprida,
de vida, enfim, resolvida
prontinho pra descansar...
- Ô mãe, quantos anos eu lhe devo?
Imagino... mas ainda assim me atrevo,
nestes versos, a indagar!
Ô mãe, de anos e anos já muitos,
de tempos de alto custo,
quase a mato de amor,
depois de matá-la de susto!

Maria da Graça Almeida

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