Atraso
Maria da  Graça Almeida
Conheci minha mãe,
então, mãe de cinco filhos!
Conheci-a já cheinha
 de corpo e preocupação.
Não sei se fui bem-vinda,
às vezes penso que não!
Já lhe pesava a idade 
e uma barriga a mais,
numa idade avançada, 
ainda pesa tão mais!
E  assim mesmo apareci, 
mesmo sem ser convidada,
mesmo sem prévio aviso, 
mesmo sem hora marcada!
- Ô mãe, desculpe
minha visita inesperada!
Quando já queria repousar, 
desnudando a idade;
quando, calada,  retratava
só a doce santidade;
quando a pálida boca
não mais tinha vaidades,
chego eu distraída, atrevida, 
toda em bronquite, 
e outros itens em ite,
que a obrigaram 
na madrugadas sombrias,
nas noites quentes ou frias,
a caminhar pela casa comigo
no colo envelhecido,
colo que mais merecia,
 num bom leito, relaxar;
 colo com missão cumprida, 
de vida, enfim, resolvida
prontinho pra descansar...
- Ô mãe, quantos anos eu lhe devo?
Imagino... mas ainda assim me atrevo,
 nestes versos, a indagar!
Ô mãe, de anos e anos já muitos,
de tempos de alto custo,
quase a mato de amor,
depois de matá-la de susto!
Maria da Graça Almeida
 
 
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