Caneta vermelha
maria  da graça almeida
Não transmudem  a poesia,
nem violentem os poemas,
o que vale é o que a alma desenha
com os pincéis do alumbramento.
Não dilacerem o dito
no afã do grito alheio.
Deitem o pensamento,
a percepção, os motivos,
de acordo com seus sentimentos.
Não se predisponham
aos óculos, às  bengalas.
O dom caminha com boas pernas
e a arte nunca foi cega.
Afastem a caneta vermelha,
o que vale é o rito,  a lenda,
o mito  da autêntica entrega.
Sigam fiéis a seus versos,
não permitam que terceiros
alterem-lhes os manifestos,
dilatem ou os partam ao meio.
Somente a  letra  própria
oferece as  pistas
de um momento pessoal
e da original intenção
do artista.
 
 
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