17 de outubro de 2011

Salgueiro chorão




Os faróis dos trens, ao chegar à cidade, incidiam sobre o salgueiro chorão,
que prateado soluçava, num espetáculo inesquecível de farta inquietação...
Desde o tempo de menina almejava em meu jardim o chorão ou a casuarina
Lindo é seu porte, belas as suas hastes, recheadas de folhas longilíneas , que lânguidas, femininas voltam-se ao chão, porém, a superstição inibiu-me a intenção. Associei-o à tragédia de meus amigos, precocemente expulsos da vida - ainda que o chorão não tivesse tido nenhuma participação, a não ser pelo balouçante espectro, que, no quintal, depois da partida dos moços em questão, altivo, subia, em sinistra exibição.
Implantou-me sua figura à memória e sobre mim cristalizou-se feito símbolo de tal história. Fato que não me permitiu concretizar o antigo desejo, ora adormecido. Em face de tal associação não cedi aos impulsos do plantio,
e, hoje em dia, a redimir-me da extrema covardia, resolvi escrever um inócuo poema cujo espécime uso agora como tema.

Salgueiro chorão
Maria da Graça Almeida

Na ilha da terra sofrida,
no fim do mundo e da vida,
humilde, olhando o chão,
triste gemia o chorão.

- Por quem choras, ó chorão,
este choro sem consolo?
Cá estou, à tua mão,
ofertando-te apoio!

- Este choro é bem antigo,
sufocado, reprimido,
pois de face para o chão,
não vejo da lua o clarão!

- Alegra-te, bom amigo,
não desprezes o que digo,
na água que te rodeia,
tão mais perto refletida,
terás linda a lua cheia!

(Quando o olho então já cego,
às visões da alma me entrego.
Aos reveses desta vida,
soluções alternativas.)

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