1 de outubro de 2007


Há alguma coisa
maria da graça almeida

Há alguma coisa no ar,
que não me deixa respirar;
alguma coisa na garganta,
que me impede de orar.

É algo além da lembrança,
além do poder, além da vontade.
É feito a liberdade
doada a quem não a solicitou.

O tempo que vaga a esmo,
ocultando-se da vida,
escondido dele mesmo.

O querer em tom menor,
que faz os desejos estreitos
e a impotência maior.

O desencanto de apenas ser
uma dúvida do próprio saber.

São os desmandos do ego,
em detrimento das possibilidades.

É a ida, sem a volta das horas,
esquecida na menoridade.

A honestidade do espelho
a duvidar da tonalidade
dos fios de certos cabelos.

A verdade que aponta
para a escada de dupla mão,
cujos degraus,
somente, conduzem
ao único desvão.

É, na realidade,
a ausência de mim
que me faz pressentir,
prepotente e tão presente,
a irreversibilidade
do fim.

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