4 de janeiro de 2012

De repente,


De repente
 maria da graça almeida



De repente,
insiro-me no desleixo visual
ou na improdutividade da apatia,
deixo o espelho falando sozinho
ou o tempo correndo na inércia
de um relógio franzino.

De repente,
os valores viram pó,
a vontade ata-se em nós,
os desejos quedam-se aniquilados
e as expectativas jazem
num papel amarfanhado.

De repente,
o terço, a bíblia e a fé
tornam-se ateus,
o espaço, a minha volta, cresce
e eu decresço, neste mundo,
pigmeu...

De repente,
na impossibilidade dos passos,
prendo- me em famigerados laços,
e a letargia
sufoca-me, dia a dia.

De repente,
o sim endurece,
o não recrudesce
e o talvez fita-me
com olhar indiferente.

De repente,
o nada torna-se infinito,
o tudo se faz restrito
e, para sempre, a paz
transmuda -se
em conflito.

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