26 de abril de 2010


Poema Artesanato
Maria da Graça Almeida


Minha poesia é inglória,
vive em bancas incertas.
Do pódio e das vitórias,
traduz histórias discretas.
Nos dizeres, incontida,
minha poesia é de lua,
às vezes, reza vestida,
às vezes discursa nua.
Meu poema é artesanato.
E sai-me pronto das mãos.
Coso-o, com muito cuidado,
cirzo-o, sem distração.
Às vezes vem das sucatas,
de contas e velhos botões,
de renda e fitas baratas,
da fieira dos piões.
Que ressona atrás da porta,
tem os pêlos de um cão,
no final das linhas tortas
traz pena, paina, algodão.
Tem cores das violetas,
pose de pedra-sabão.
Nas asas da borboleta,
nem coloca os pés no chão.
O poema-artesanato
traz ponto-cruz, bordaduras.
É sempre um simples retrato
de uma notória figura.

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