29 de abril de 2010


Autenticidade
maria da graça almeida

A criança é surpresa, é descoberta. Não se abate pelo tédio, não se oculta em segredos, nem tem razão para o remorso. Permite-se ousar, por isso pratica os sonhos, com a mesma serenidade com que adormece.
Quando não sabe, inventa; quando não pode, imagina; quando desconhece, descobre.
O que para nós - os já saturados de realidade - é absurdo, para ela é normal, natural. Suas possibilidades ainda não foram poluídas ou influenciadas pela racionalidade humana, pela indocilidade urbana, nem pela crueldade social.

Aos três anos, Felipe, filho único, queria um irmão. Remexeu o armário das panelas. Colocou-as no chão e, com a colher-de-pau, acreditava cozinhar.
Compenetrado, explicou à mãe:
- Vou fazer um irmãozinho.

Empreendia a batalha para a realização do desejo, uma ação positiva, advinda da certeza do querer: eu quero e faço, não espero por ninguém. Eu quero e consigo, ou, dou-me o direito e a oportunidade de tentar.
Ainda que não tenha verbalizado o pensamento, sua ação, por si , veemente, proferiu o discurso.
O equívoco de uma manobra não invalida a tentativa e nem frustra o manobreiro, uma vez que, a cada experimento, saímos reforçados nos propósitos e sentimos, plena, a nossa determinação.

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